Cerco de Jericó – Quebrando as muralhas dos vícios

Homilia do Pe. Edimilson Silva, pároco da Paróquia São Pedro, na Missa das Causas Impossíveis, dia 18 de maio de 2020

Pe. Edimilson: o vício nos escraviza e destrói a família

Hoje vamos falar sobre a muralha dos vícios que nós erguemos ao longo da nossa vida e que precisa ser destruída em nome do Senhor Jesus. O vício significa uma falha, um defeito. É um hábito repetitivo que causa grande prejuízo ao viciado e às pessoas que convivem com elas. O vício vai gerando essa dependência psicológica. Muitas pessoas pensam que o vício é apenas em relação ao alcoolismo ou às drogas. Mas o vício também está ligado ao consumo excessivo; àquele que está apegado ao sexo, que tem o vício da masturbação, o vício de querer comprar. E hoje se fala também do vício com relação à internet. Por isso tem até um grupo que se chama Delete, que utiliza a ferramenta para ajudar a pessoa a ter um acesso mais consciente e não se tornar um viciado nas redes sociais.

A diferença entre hábito e vício
Há uma diferença entre vício e hábito. Muitas vezes a gente fala: “o fulano tem um mau hábito”. Os maus hábitos, quase sempre, podem ser excluídos – através da educação, do autocontrole, do autoconhecimento. Pode ser tirado sem provocar algum dano. Por exemplo: se a pessoa tem hábito de comer doce após as refeições, se ela tirar, não vai ter tremor por abstinência ou alucinação. Agora, aquele que tem vício, se tirar o comportamento que gera um certo prazer mas escraviza, a pessoa sofre crise de abstinência. Então é preciso derrotar o vício na nossa vida.

A dependência de internet também é um vício perigoso

O hábito não interfere nas atividades da nossa vida. No nosso trabalho, na família, no lazer… Já o vício interfere na nossa família porque alguém que é viciado faz a família sofrer e sofre também.
Muitas vezes, é alguém que conta mentira e vive de forma dissimulada. Que você já não confia mais. Quem tem um viciado em casa, sabe. Muitas vezes já não suporta mais a pessoa. Então o vício é quando o sujeito passa a ser dominado pelo prazer e ele precisa daquilo para se sentir bem. É como se fosse algo inesgotável que ele necessita. E a gente sabe que prejudica a vida pessoal, prejudica a vida profissional. Pega por exemplo alguém que usa drogas: ele começa a ser dissimulado; começa a mentir, a faltar ao trabalho… E assim é também quem é viciado no alcoolismo. Ele passa a não cuidar mais de si e fica desleixado. Ele se torna uma espécie de escravo. E a pessoa não percebe que é dominada. Quantos não falam: “eu bebo socialmente. Quando for pra parar, eu paro.” Às vezes, ela só consegue parar quando vem o sono. Mas não tem a força de parar por si mesma. Tem que buscar o prazer de beber cada vez mais. Não consegue derrotar o vício e ter o autocontrole da situação. E coloca em perigo o relacionamento familiar, o relacionamento no trabalho, com os amigos… Se você pega, por exemplo, a Cracolândia. Agora tem um grande dilema: esvaziar ou não a Cracolândia. Vai colocar o povo aonde? Todos ali tinham família. Muitos tinham trabalho, amigos… e o vício foi fazendo com que elas se entregassem cada vez mais àquela situação e não percebessem a autodestruição. Foram levadas àquela vida que você muito conhece quando passa nos meios de comunicação. As pessoas foram dominadas pelo vício.

Se nós não queremos cair no vício devemos cultivar em nós as virtudes. As virtudes são capazes de destruir os vícios em nossa vida. Mas para não deixarmos o vício crescer em nós é preciso viver cada vez mais na virtude. Filipenses 4,8 diz: “ Tudo que é verdadeiro, nobre e justo; tudo que é puro, amável, de boa reputação; tudo que é virtude e digno de louvor, isso deveis ter no pensamento.”

Exemplos de virtude

E alguns exemplos de virtude: coragem, integridade, disciplina, honestidade, respeito, justiça, lealdade, tolerância, paciência, otimismo, bondade, perdão, humildade. São virtudes que devemos cultivar na nossa vida. O filósofo Aristóteles definia virtude como hábito digno de louvor. É uma disposição para a prática do bem que se adquire com o hábito. Mas com o hábito bom. Platão definiu quatro virtudes de uma pessoa: temperança, prudência, sabedoria e fortaleza. Essas virtudes vieram a ser conhecidas como as virtudes cardeais, que são as virtudes centrais do ser humano.

Busto do filósofo grego Aristóteles

Então, como podemos vencer os 7 pecados capitais? Com as 7 virtudes. Com a castidade eu vou vencer a luxúria (pensar em sexo de forma deturpada, ver filme pornográfico). Luxúria é tudo aquilo que não vê o outro como ser humano. É usar o outro. Castidade é a pureza de coração. O puro de coração vai ver Deus.
Pra vencermos a avareza é preciso da caridade. A caridade me faz abrir a mão para o outro. Me faz ver o outro como irmão. Me faz vencer todo o desejo de posse. “Isso me pertence. Eu quero pra mim.” Vencer essa avareza que escraviza.
Para vencer a gula, a temperança.
Para vencer a preguiça, a diligência.
Para vencer a ira, a paciência.
Para vencer a inveja, a bondade.
Para vencer a vaidade, a humildade.

Quatro virtudes para vencer o vício

Agora vou falar de quatro pontos fundamentais para você vencer o vício na sua vida e não deixá-lo entrar:
PRUDÊNCIA – é ter bom discernimento em qualquer circunstância. “O homem prudente vigia os seus passos”. A prudência me faz ter uma ação com bom discernimento. Não vai me levar à autodestruição e nem destruir o outro. Nos ajuda a vencer o pecado. A prudência não se confunde com timidez e nem com o medo. É o bom discernimento para as minhas decisões que tomo no dia a dia e me levam ao crescimento.
JUSTIÇA – É dar a cada um o que lhe é devido. Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada um. Se eu pratico a justiça, eu respeito os direitos dos outros e sei quais são os meus direitos e os meus deveres.
FORTALEZA – é a virtude moral que me assegura a ter firmeza nas provações. De ter firmeza no dia a dia para não abandonar os caminhos do Senhor. Eu tenho firmeza não nas preocupações, mas na Graça de Deus que me ajuda a vencer as preocupações. Foi o que nós ouvimos no Evangelho de hoje. Os discípulos receberam a força do Espírito Santo, o Defensor, para que pudessem ser no mundo a testemunha do amor de Deus. A testemunha da Graça. Para que eles fossem constantes na provação e na perseguição. Muitas vezes, nós somos inconstantes. Prometemos a Deus na confissão: “eu vou mudar de vida.” E continua fazendo a mesma coisa ou pior ainda. E quando você passa a ver os defeitos dos outros e não ver os seus. Você precisa desse dom da Fortaleza para manter-se firme no Senhor. O Senhor é minha Fortaleza e a minha glória. “No mundo haveis de sofrer tribulações, mas coragem! Eu venci o mundo.”
E para concluir, a TEMPERANÇA – é a virtude moral que modera a atração dos prazeres e proporciona o equilíbrio na minha vida. Eu tenho domínio sobre os meus instintos, sobre as paixões e não me deixo levar pelas más inclinações. Eu sei refrear os meus apetites. Eu sei viver com sobriedade e moderação, que é a outra tradução da Temperança.
Hoje eu convido você a olhar para sua vida e perceber qual o vício que você tem. Muitas vezes só olhamos o vício do outro. Vemos o vício de quem tem problema com alcoolismo, com as drogas… mas não vemos o vício com relação ao consumismo, ao falar mal dos outros. Falar mal do outro é tentar destruir e denegrir a imagem dele. Nós precisamos dessa libertação na nossa vida e na nossa família. O vício vem para destruir, matar, confundir. E muitas vezes vamos aceitando isso como coisa normal. O vício destrói a família. A família inteira sofre com a situação. Quando tem alguém que bebe em excesso, que usa drogas, que já passou por tratamento, que vai e volta da clínica, que continua fazendo a mesma coisa, que passa a praticar roubo… Nada mais é do que um prisioneiro. E tem aquele que fala: “eu uso drogas, mas não fico viciado.” Como não? O tempo vai passando e quando você vê, já não consegue largar. Essa estória de que você usa e não é um viciado, é só uma tentativa de justificar o que você está fazendo e que, além de ser um erro, escraviza. E a sociedade vai criando leis para permitir como se nada de mal pudesse acontecer.
Nessa noite eu convido você a abrir o seu coração e a sua mente a Jesus Cristo e pedir a Ele que venha em teu auxílio para que possa quebrar todas as muralhas que impendem o teu progresso. E hoje, de forma especial, rezando e pedindo a Ele que possa quebrar a muralha de todos os vícios, principalmente os vícios que escravizam a família. E nós colocamos tudo nas mãos do Senhor.

Veja aqui parte da homilia do Pe. Edimilson:

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